segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

O café e outros produtos da primeira agricultura de Piraju



O café e outros produtos da primeira agricultura de Piraju

Os homens que desbravaram o vale do rio Paranapanema.
Entre eles o Engenheiro Theodoro Sampaio, Orville Derby,
Alberto Loefgre.  Os outros nomes não foram encontrados.

A notícia de que o café produzido na região foi um dos classificados no Prêmio da Illycaffé faz com que a população local volte a se orgulhar de seu principal produto agrícola, pelo menos em valor comercial, já que outros já têm área maior de plantação por aqui.
De acordo com relatos históricos, entretanto, o início da agricultura de Piraju tinham outros produtos que, disputavam com o café, qual era o mais produzido. Pelo menos é isso que diz o Boletim da Comissão Geográfica e Geológica do Estado de São Paulo, um documento importantíssimo, elaborado por Theodoro Sampaio, que faz considerações sobre o vale do Paranapanema e, por conseguinte, sobre a agricultura de Piraju. Disponibilizamos no blog e no site do Piraju Regional News, o boletim nº 4 de 72 páginas e uma expedição realizada posteriormente, que traz informações interessantíssimas sobre as tribos indígenas e outros fatos colhidos numa expedição realizada aqui por volta de 1890.
Link Boletim 4: https://pt.scribd.com/document/366281866/Boletim-CGG-04-Consideracoes-Geographicas-Economicas-Vale-Rio-Paranapanema-1890-2.

Voltando para a agricultura, em outro boletim, uma comissão técnica enviada após a expedição de Theodor Sampaio, traça um perfil da agricultura de Piraju e do vale do Paranapanema relatando que encontrou aqui outros produtos além do café e as dificuldades para escoar a produção.
(...) Acreditamos que São Sebastião do Tijuco Preto ainda conhecia práticas rusticas, quando por volta de 1886 já se produzia fumo, café, açúcar e aguardente em grande quantidade citado no relatório por Theodoro Sampaio em sua expedição de reconhecimento do sul do sertão paulista através do Rio Paranapanema. Em 1900 vimos a falta de transporte como o entrave para o crescimento e fomento da agricultura quando o Correio Paulistano narra o transporte de centenas de sacas de café daqui à Cerqueira Cesar realizado em muares para ser embarcado no trem que ali chegava. Vencida esta etapa da modernização do transporte, com a construção do Ramal Ferroviário da Sorocabana em 1906 -1908, tanto por interesse da antiga província em desenvolver o sul do sertão paulista como por parte dos republicanos; fazendeiros, comerciantes e o povo em geral, de Piraju e Fartura, que fortemente abraçam a justa causa de ver chegar a estrutura do progresso para o fomento da agricultura (...).                 
Depois, em 1905, Cândido de Albuquerque visita 124 fazendas em Piraju. Entre elas a do Sr. Antônio da Silva Gomes Braga que é descrita em detalhes por Albuquerque que cita cada item da propriedade.
“Entre outras fazendas, visitei a do Sr. Antônio da Silva Gomes, que possui casas de colonos, serraria, boa máquina de descaroçar e prensar algodão, 150 alqueires de invernada de Angola; pequena criação de animais: 50 éguas peludas, 1 pastor meio sangue inglês, um jumento espanhol, 170 cabeças de gado, sendo alguns caracus. Os seus algodoais  tem a extensão de 40 alqueires e estão muito bons. Os seus agregados possuem 20 alqueires plantados em algodão, que está igualmente bom. Nas suas vizinhanças há cerca de 40 alqueires plantados em algodão. O ano passado o Sr. Braga com seus agregados e vizinhos obteve uma colheita de 10.000 arrobas de algodão, e este ano, não havendo contratempo, poderá alcançar 25 a 30.000 arrobas de sua plantação, toda feita a enxada, embora seus terrenos sejam próprios para o trabalho à máquina. Este senhor é muito entusiasta da cultura do algodão. No município de Piraju a futura colheita de café será menor que a deste ano, pois a florada foi pouco lisonjeira”.
Em 1910, as coisas melhoraram com um pequeno, mas importante avanço tecnológico para época. Um trator arando a terra, em vez dos arados que virou notícia no jornal “O Comércio de Piraju”. A chegada do trator Fordson na fazenda do Dr. Simão não deixa de ser uma transição importante da técnica rústica do arado para aquela que chega para implantar o começo de uma nova agricultura aumentando a produção.

Escoamento da produção agrícola.
Mesmo com o relatório da comissão técnica, ainda havia dificuldades de transportar os produtos da agricultura de Piraju.
“E, sistema de transportes, falando de estradas, é o que Piraju não possui, disse o jornal “O Comercio de Piraju”, importante meio de comunicação da época que apontou a ausência do Poder Público da época que se isentava em construir e manter estrada em condições de tráfego depois que foi extinto o imposto, cuja receita, era usada para este fim.
“Enquanto vigorava o imposto, bem ou mal se sentia a Prefeitura no dever de dispensar algum cuidado às estradas trafegáveis. Extinto o imposto, sentiu-se também a municipalidade desobrigada da incumbência, deixando a conservação dos nossos caminhos totalmente a cargo os nossos lavradores, que deles se utilizam”, reclamou o jornal que apontou as consequências das péssimas condições das estradas que ligavam as zonas agrícolas com a cidade.
“Tal é o estado de abandono que as populações inteiras de diversos bairros estão se evadindo para cidades vizinhas. Este é o caso dos habitantes do Cágado, que pretendem fazer suas compras em Ipaussu. O mesmo se pode dizer com referencia aos moradores do Bairro dos Mulatos, que encontram maiores facilidades do lado de Cerqueira César, mantendo uma balsa no rio Paranapanema, a fim de atrair os sitiantes daquela zona para a sua esfera de influencia. A Estrada velha de Sarutaiá, que é a mesma via de acesso ao Cágado, chegou ao ponto de não permitir trânsito sequer a carroças. (...) Entretanto, este “estado de coisas” não pode e não deve perdurar se não quisermos levar ao desanimo o nosso agricultor, pois em tais condições o encarecimento dos transportes anula em boa parcela o esforço do produtor”, disse o semanário da época alertando que já se avizinhava a colheita de nova safra de algodão, milho, feijão arroz e outros produtos para serem exportados e que o escoamento depende de boas estradas.


Nota da redação. O bairro dos Mulatos era uma ilha que existia no local hoje coberto pelas águas da represa Jurumirim antes de represar. Era muito produtiva com gado, produção de cereais. As pessoas que viviam ali eram de origem escrava.


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