quinta-feira, 29 de junho de 2017

Usineiros pedem certidão de uso de solo em tom de ameaça

Local onde a barragem da nova usina será construída. Represa ameaça Parque do Dourado e pista natural da canoagem
Os representantes da empresa Energias Complementares do Brasil (EC Brasil) que planeja construir uma pequena usina hidrelétrica (PCH II) na região do rio Paranapanema que fica logo abaixo da entrada do Parque do Dourado, protocolaram na Prefeitura um pedido de emissão de certidão declarando que a construção e funcionamento de uma usina naquele trecho do rio Paranapanema em Piraju está em conformidade com a legislação aplicável ao uso e ocupação de solo.
O requerimento já era esperado uma vez que as leis que protegem o último trecho de corredeiras do rio que corta Piraju foram declaradas inconstitucionais por uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADin), por aqui, até hoje sob suspeita de ter sido patrocinada pela empresa que já esteve em Piraju anos atrás com mesma intenção e foi rechaçada pela população.
O que causou forte impressão no prefeito José Maria Costa e toda sua equipe administrativa foi o teor do requerimento considerado pelo chefe do Executivo como ameaçador, mal educado e de baixo nível.   É que, depois de pedir a certidão, o documento assinado por José Guilherme  Antloga do Nascimento, diretor da EC Brasil, aponta as consequências da negativa da Prefeitura em emitir o documentos.
 “Em caso de omissão do agente público incumbido de responder ao interessado, poderão ser-lhe impostas reprimendas administrativas previstas no Estatuto dos Servidores Públicos Civis da União, do estado federado ou do município, conforme seja ele, respectivamente, servidor federal, estadual ou municipal. De sua inércia, ainda, poderá resultar a configuração de improbidade administrativa (artigo 11 da Lei nº8429 de 02.06.1992) Na esfera criminal, o retardamento ou a omissão indevida na prática de ato de ofício, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal, caracteriza a delito de prevaricação (CP, artigo 319). Também constitui crime de responsabilidade do Chefe do Poder Executivo municipal deixar de fornecer certidões de atos ou contratos municipais dentro do prazo estabelecido em lei (Decreto lei 201/67, artigo 1º, inciso XV)”, escreveu assim o diretor da EC Brasil como se os profissionais da Prefeitura fossem um bando de ineptos que não conhecem leis ou suas obrigações.
É estranho, aliás, o pedido de certidão que declara as atividades da EC Brasil se preparando para construir mais uma usina em Piraju como em conformidade com a legislação ao uso e ocupação de solo uma vez que é de conhecimento da empresa que as leis que protegem o rio foram derrubadas. Entranho também é o fato de que, mesmo já passado algum tempo, a Câmara ainda não revogou tais leis. Somente esta semana o assunto foi comentado no Legislativo de Piraju. Mas isso é outro assunto.
É fato. O último trecho de corredeiras do rio Paranapanema está desprotegido. A Ação Direta de Inconstitucionalidade julgada no Supremo Tribunal Federal (STF) declarou inconstitucional a Lei nº 2.634/2002 que criou o Parque Municipal Natural do Dourado; a Lei nº 2.654/2002 que prevê interregno de 20 para construção de usinas no município; o artigo 10, inciso XXIX da Lei Complementar nº 143/2013 proíbe construção de hidrelétricas em Piraju e a Resolução nº 01/2002 de tombamento do rio Paranapanema do Conselho do Meio Ambiente e Patrimônio Cultural do Município de Piraju. Todas que proibiam a construção de usinas em Piraju.
O prefeito José Maria costa publicou nas páginas sociais que vai lutar para impedir o empreendimento. Na Câmara, os vereadores também se posicionaram contra a construção de usinas em Piraju. Ao usar a tribuna da Câmara, presidente do Legislativo foi racional e pediu que todos aqueles que são contra que se manifestem para que o movimento contra a usina ganhe força. E, de fato, se a questão é proteger o rio, essa responsabilidade já não cabe mais unicamente e exclusivamente ao Poder Público, ONGs e organizações ambientais. É preciso engajamento. Se a maioria da população já se manifestou contra as usinas, a possível minoria que é a favor deve, democraticamente, aderir às ações realizadas em defesa do rio. Não adianta ficar na bronca uns contra os outros já que a bronca maior é mexer com o que é da terra. União sempre. Parafraseando Assis Valente em Brasil Pandeiro: “Está  na hora dessa gente bronqueada mostrar seu valor”.   


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