Vereadores com o vice-prefeito Fabiano e prefeito José Maria no início de seus mandatos. Harmonia comprometida. |
O uso da tribuna pelos vereadores na sessão ordinária desta
semana, mostrou sintomas de que a união dos vereadores pode estar comprometida
e que o discurso uníssono do início dessa Legislatura de sintonia entre os
vereadores e o prefeito, já não ecoa entre os pares.
No início, o comportamento dos vereadores era consoante com
o discurso, mas a situação foi mudando a medida em que cada vereador analisava e
verificava que não estava havendo reciprocidade na relação entre o Executivo e o
Legislativo.
Prestígio do prefeito
Com o passar do tempo, alguns parlamentares foram se
definindo pela situação ou oposição, através da linha de trabalho ou da postura
que adotaram em relação ao Executivo. Muitos vereadores dizem não gostar dos
rótulos “situação” e “oposição”, entretanto, a classificação é inevitável na
política uma vez que há partidos, ideologias e, por que não, até interesses
envolvidos, como por exemplo, desejo de reeleição, o que muitos, também negam.
Hoje, na Câmara, não pode afirmar categoricamente que a
oposição é maior que a situação, até porque, tem vereadores que fazem questão
de deixar a dúvida de lado estão e até trabalham para aumentar a cortina de fumaça.
Pode-se garantir, entretanto, que o prestígio político do prefeito entre os
vereadores anda na corda bamba.
CP: início do atrito
Desde o fim de 2017, esse posicionamento de alguns
vereadores começou a mexer com a, suposta harmonia, que existia na Câmara. A
instauração da Comissão Processante(CP), pedindo a cassação do prefeito José
Maria Costa, fez com que as especulações de quem era da situação ou oposição,
aumentasse. A expectativa do placar da votação na sessão em que o relatório da
CP seria apresentado aos vereadores era de 7 votos pelo arquivamento contra 4 pela
cassação. Através de uma reclamação de que a CP negou direito de defesa ao
prefeito e teria perdido prazo para realizar o trabalho de investigação, a
Justiça suspendeu os trabalhos da Comissão e, até agora, ninguém soube o resultado
e, se determinar a CP como nula, ninguém ficará sabendo.
Foi justamente por causa da CP que a animosidade entre os
vereadores aumentou ainda mais. Tudo começou com o vereador Aparecido Donizetti
Cassanho que foi apontado como tendo sido cooptado pela situação através de, supostos
favorecimentos, a ele e a seu pai, enquanto participava da Comissão
Processante. Desde então, vive uma situação incomoda na Câmara duvidando a lealdade
de seus amigos e tendo sua lealdade também questionada.
Áudio
Depois circulou nas redes sociais uma mensagem de áudio em
que o vereador Valberto Zanatta declara para um interlocutor identificado simplesmente
pelo primeiro nome, Luciano, que seu colega Genival Borges (Gina) iria votar
pelo arquivamento da CP. Gina foi cobrado por ter seu voto declarado antes da
votação e sem, a menos, ter lido o relatório. Gina não gostou da atitude do colega,
mas evitou polemizar.
Oishi. Sabor de fim de semana |
Analisar antes de votar
Na sessão posterior a suspensão da sessão extraordinária da
leitura do relatório da CP, o vereador Antônio Carlos, usando a tribuna
lamentou a paralização da CP, criticou a postura de alguns colegas e pediu que os
eleitores sejam mais criteriosos ao escolher os candidatos, principalmente em
relação aos que já participaram de alguma legislatura, incluindo ele próprio. A
mensagem parece que tinha destinatário certo.
“Então não se deixe levar por falsas promessas de época de
campanha, um ou outro presentinho. Depois
são quatro anos tendo que suportar aqueles que te deram os presentinhos que
recebeu, os sorrisos e os tapinhas nas costas. Não estou dizendo que votem em
mim, mas em pessoas que merecem ser votadas e reeleitas. Vamos pensar nas
eleições senão vocês terão que nos suportar, inclusive eu. Façam a escolha
certa se o Dr. Antônio não foi bom, não atendeu as expectativas, não produziu nada,
não arrumou recursos para o Município, ficou suspeito em mau comportamento em
todos os sentidos financeiro, político, relacionado a vantagens indevidas me
julguem mesmo. Esse critério deve ser aplicado a todos os que estão aqui e a
todos que estão no Executivo”, recomendou o Antônio Carlos Corrêa.
Reflexão antes de falar
Na sessão ordinária realizada na quarta-feira (2), por causa
do feriado, Genival Borges decidiu falar sobre o áudio que circulou na internet
e da atitude de seu colega Valberto Zanatta, que mencionou seu nome e declarou sobre
qual seria seu voto no relatório da CP. Gina disse ter sido pego de surpresa
quando viu seu nome circulando nas redes sociais em relação a sua posição na CP.
Sem mencionar nomes, até porque era desnecessário, pediu a seus colegas reflexão
para evitar manchar a Câmara.
“Confesso que fiquei muito triste com toda essa situação e
queria deixar bem claro que minha posição de avalição em relação a essa CP só
seria revelada depois que a Comissão fizesse o relatório dela respeitando os
nobres vereadores que fizeram parte dessa comissão e nunca declarei meu voto
nem para minha esposa ou o para o meu filho. Graças as Deus eu tenho princípios, fé em Deus
e respeito todos os vereadores desta casa. Então que pensemos bem antes de
comentar alguma coisa ou citar nomes ou tomar alguma atitude que venha manchar
o trabalho e a confiança dessa casa de Leis”, frisou o Gina Borges que durante
toda a semana teve que lidar com o constrangimento causado pelo teor do áudio
que citava seu nome.
Sem desculpas
Em seguida, na mesma sessão, Valberto Zanatta ocupou a
tribuna e todos esperavam um pedido de desculpas ao colega o que não aconteceu.
Ao contrário do que todos esperavam, Valberto usou boa parte de seu tempo para
ler uma mensagem que foi interpretada como uma resposta ao discurso do vereador
Antônio Carlos Corrêa.
Depois de falar dos eventos realizados na cidade no feriado
prolongado do Dia do Trabalho, Valberto leu uma mensagem que postou em seu
perfil na rede social. No texto, Valberto inicia falando de seu ingresso na
vida pública, de seu perfil político, trabalho de equipe e oposição.
“Desde que comecei minhas atividades públicas há mais de 20
anos, tenho por convicção que o político tem como missão prezar pelo bem do
município e de seus moradores. Podem existir muitas maneiras de atingirmos o
tão falado “bem comum”. A que eu escolhi não me permite maldizer um colega, ser
um constante crítico oposicionista, ridicularizar outro ser humano e bradar na
mídia contra homens e mulheres como se os mesmos fossem sempre mal-intencionados
e inconsequentes.
Considero que o trabalho em equipe é a base para o
desenvolvimento de nossa cidade, que começa nas pequenas ações do dia a dia.
Por isso, desde que reiniciei meus trabalhos como vereador em 2017, decidi
contribuir para com o Executivo em suas ações que considerava positivas para
nós pirajuenses. Não foi uma escolha fácil, mas a melhor para nossa cidade, com
certeza!
Ser oposicionista ferrenho o tempo todo é simples! Mas,
“quem nunca errou que atire a primeira pedra”! Todos somos humanos e podemos
cometer deslizes, mas a ânsia por fazer o bem deve ser valorizada e sobrepor
nossos erros, se estes não prejudicarem diretamente de forma grave os
munícipes. Que possamos dar também atenção aos bons feitos de cada um dos que
ocupam cargos públicos nesta cidade e não somente desejar a crucificação dos
mesmos por possíveis faltas cometidas. Às vezes, um cartão amarelo já é
suficiente para apontar uma irregularidade que tenha ocorrido.
Desde minha campanha eleitoral, digo que “Juntos Somos Mais”
e quero assumir com vocês novamente o compromisso de trabalharmos unidos”, diz
a mensagem de Zanatta.
Clima frio
O que se pôde notar pela reação dos vereadores após a sessão
foi que, a ausência de qualquer menção de um pedido de desculpas na mensagem de
Valberto, deixou o clima político na Câmara ainda mais pesado e pode ser um
indício de que a harmonia na Câmara foi colocada em xeque pelo desgaste comum
das discussões políticas que alí acontecem e comportamento dos pares. É claro
que isso não que dizer que os vereadores se tornaram inimigo, mas que o antagonismo
alí já está muito mais que evidente.
E a situação pode piorar ainda mais. Mais uma CP tramita Câmara
pedindo a cassação do prefeito José Maria e será preciso harmonia entre os
pares para que a discussão seja feita a fim de refletir a vontade do povo como
diz o Regimento Internos da Câmara. Os vereadores têm capacidade de sobra para
administrar seus conflitos. Basta apenas, que não haja interferência externa.
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