O café e outros produtos da primeira agricultura de
Piraju
Os homens que desbravaram o vale do rio Paranapanema. Entre eles o Engenheiro Theodoro Sampaio, Orville Derby, Alberto Loefgre. Os outros nomes não foram encontrados. |
A notícia de que o café produzido na região foi um
dos classificados no Prêmio da Illycaffé faz com que a população local volte a
se orgulhar de seu principal produto agrícola, pelo menos em valor comercial,
já que outros já têm área maior de plantação por aqui.
De acordo com relatos históricos, entretanto, o
início da agricultura de Piraju tinham outros produtos que, disputavam com o
café, qual era o mais produzido. Pelo menos é isso que diz o Boletim da
Comissão Geográfica e Geológica do Estado de São Paulo, um documento
importantíssimo, elaborado por Theodoro Sampaio, que faz considerações sobre o
vale do Paranapanema e, por conseguinte, sobre a agricultura de Piraju.
Disponibilizamos no blog e no site do Piraju Regional News, o boletim nº 4 de
72 páginas e uma expedição realizada posteriormente, que traz informações
interessantíssimas sobre as tribos indígenas e outros fatos colhidos numa
expedição realizada aqui por volta de 1890.
Link Boletim 4: https://pt.scribd.com/document/366281866/Boletim-CGG-04-Consideracoes-Geographicas-Economicas-Vale-Rio-Paranapanema-1890-2.
Voltando para a agricultura, em outro boletim, uma
comissão técnica enviada após a expedição de Theodor Sampaio, traça um perfil
da agricultura de Piraju e do vale do Paranapanema relatando que encontrou aqui
outros produtos além do café e as dificuldades para escoar a produção.
(...) Acreditamos que
São Sebastião do Tijuco Preto ainda conhecia práticas rusticas, quando por
volta de 1886 já se produzia fumo, café, açúcar e aguardente em grande quantidade
citado no relatório por Theodoro Sampaio em sua expedição de reconhecimento do
sul do sertão paulista através do Rio Paranapanema. Em 1900 vimos a falta de
transporte como o entrave para o crescimento e fomento da agricultura quando o
Correio Paulistano narra o transporte de centenas de sacas de café daqui à
Cerqueira Cesar realizado em muares para ser embarcado no trem que ali chegava.
Vencida esta etapa da modernização do transporte, com a construção do Ramal
Ferroviário da Sorocabana em 1906 -1908, tanto por interesse da antiga
província em desenvolver o sul do sertão paulista como por parte dos
republicanos; fazendeiros, comerciantes e o povo em geral, de Piraju e Fartura,
que fortemente abraçam a justa causa de ver chegar a estrutura do progresso
para o fomento da agricultura (...).
Depois,
em 1905, Cândido de Albuquerque visita 124 fazendas em Piraju. Entre elas a do
Sr. Antônio da Silva Gomes Braga que é descrita em detalhes por Albuquerque que
cita cada item da propriedade.
“Entre
outras fazendas, visitei a do Sr. Antônio da Silva Gomes, que possui casas de
colonos, serraria, boa máquina de descaroçar e prensar algodão, 150 alqueires
de invernada de Angola; pequena criação de animais: 50 éguas peludas, 1 pastor
meio sangue inglês, um jumento espanhol, 170 cabeças de gado, sendo alguns
caracus. Os seus algodoais tem a
extensão de 40 alqueires e estão muito bons. Os seus agregados possuem 20
alqueires plantados em algodão, que está igualmente bom. Nas suas vizinhanças
há cerca de 40 alqueires plantados em algodão. O ano passado o Sr. Braga com
seus agregados e vizinhos obteve uma colheita de 10.000 arrobas de algodão, e
este ano, não havendo contratempo, poderá alcançar 25 a 30.000 arrobas de sua
plantação, toda feita a enxada, embora seus terrenos sejam próprios para o
trabalho à máquina. Este senhor é muito entusiasta da cultura do algodão. No
município de Piraju a futura colheita de café será menor que a deste ano, pois
a florada foi pouco lisonjeira”.
Em
1910, as coisas melhoraram com um pequeno, mas importante avanço tecnológico
para época. Um trator arando a terra, em vez dos arados que virou notícia no
jornal “O Comércio de Piraju”. A chegada do trator Fordson na fazenda do Dr.
Simão não deixa de ser uma transição importante da técnica rústica do arado
para aquela que chega para implantar o começo de uma nova agricultura
aumentando a produção.
Escoamento da
produção agrícola.
Mesmo com o
relatório da comissão técnica, ainda havia dificuldades de transportar os
produtos da agricultura de Piraju.
“E, sistema de
transportes, falando de estradas, é o que Piraju não possui, disse o jornal “O
Comercio de Piraju”, importante meio de comunicação da época que apontou a
ausência do Poder Público da época que se isentava em construir e manter
estrada em condições de tráfego depois que foi extinto o imposto, cuja receita,
era usada para este fim.
“Enquanto
vigorava o imposto, bem ou mal se sentia a Prefeitura no dever de dispensar
algum cuidado às estradas trafegáveis. Extinto o imposto, sentiu-se também a
municipalidade desobrigada da incumbência, deixando a conservação dos nossos
caminhos totalmente a cargo os nossos lavradores, que deles se utilizam”,
reclamou o jornal que apontou as consequências das péssimas condições das
estradas que ligavam as zonas agrícolas com a cidade.
“Tal é o estado
de abandono que as populações inteiras de diversos bairros estão se evadindo
para cidades vizinhas. Este é o caso dos habitantes do Cágado, que pretendem
fazer suas compras em Ipaussu. O mesmo se pode dizer com referencia aos
moradores do Bairro dos Mulatos, que encontram maiores facilidades do lado de
Cerqueira César, mantendo uma balsa no rio Paranapanema, a fim de atrair os
sitiantes daquela zona para a sua esfera de influencia. A Estrada velha de
Sarutaiá, que é a mesma via de acesso ao Cágado, chegou ao ponto de não
permitir trânsito sequer a carroças. (...) Entretanto, este “estado de coisas”
não pode e não deve perdurar se não quisermos levar ao desanimo o nosso
agricultor, pois em tais condições o encarecimento dos transportes anula em boa
parcela o esforço do produtor”, disse o semanário da época alertando que já se
avizinhava a colheita de nova safra de algodão, milho, feijão arroz e outros
produtos para serem exportados e que o escoamento depende de boas estradas.
Nota da redação. O bairro dos Mulatos era uma ilha que existia
no local hoje coberto pelas águas da represa Jurumirim antes de represar. Era
muito produtiva com gado, produção de cereais. As pessoas que viviam ali eram
de origem escrava.