quarta-feira, 25 de abril de 2018

Sistema público de Saúde de Piraju, há tempos está doente


Entenda como deveria funcionar o Programa Saúde da Família implantado em Piraju em 1994 pelo médico Osvaldo Ortega e que, depois de ser referência no Brasil sofre pesadas críticas nos dias de hoje.


A simples visão da imagem tétrica do Postão
já deixa os usuários doentes. 
O modelo de saúde de pública do Brasil é igual ao de vários países do mundo porque segue o preconizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 1960, com uma sutil diferença. Lá funciona bem melhor do que aqui por inúmeros fatores. Mas sempre há algo a ser melhorado, o que depende, invariavelmente, da forma como a população encara o sistema e, também a oferta dos entes responsáveis em relação ao atendimento de urgência e emergência.
O médico Osvaldo Ortega, da Ergovida Assessoria Em Medicina Ocupacional e Saúde Pública de Piraju, foi o responsável por implantar no município o Sistema de Saúde que funciona aqui desde de 1994. Graduado em Medicina pela Universidade de Mogi das Cruzes (1980), com Licenciatura e Bacharelado em Psicologia pela Universidade Guarulhos (1985) e mestrado pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2002), Ortega é um crítico do que se transformou o sistema que ajudou a criar, porque ao longo do tempo, tanto o Ministério da Saúde, quanto as administrações públicas deixaram de seguir, à risca, o modelo estabelecido.
Para o médico, que chegou a integrar a equipe de José Maria Costa no início de 2017, o sistema público de saúde enfrenta algumas dificuldades pontuais, assim como acontece também em alguns países de primeiro mundo. Ortega diz que, em Portugal, ainda há reclamações de que muita gente vai no pronto socorro sem necessidade. Para evitar que esse número seja maior, mesmo se tratando de serviço público, o usuário paga €1,00 (um Euro), cerca de R$ 4, 50, para ser atendido. Somente com o exemplo deste país de Europa, pode se ver que a grande procura no pronto atendimento não acontece só aqui.
Origem do modelo
Segundo explicou Osvaldo Ortega, devido ao adensamento da população, as pessoas começaram a morrer por doenças infecciosas transmissíveis o que fez surgir um outro conceito na saúde que: “O viver em sociedade”. Foi, por isso, que em 1960, a Organização Mundial de Saúde (OMS) estabeleceu que saúde é o bem-estar físico, mental e social as pessoas. A partir daí, com base nestas três vertentes, se criou o conceito de Atenção Primária da Saúde (APS)
Essa passou a ser a diretriz de saúde para todos os países que tinham que se organizar sobre a ótica da APS. Isso envolveria atender o que é primário e depois pensar no secundário.
O Primário, a APS, é um conjunto de medidas adotadas conforme a realidade de uma comunidade que, por si só, pode resolver algo estimado em 90% dos problemas de saúde das pessoas. Na APS, se diz que a maior parte dos problemas das pessoas são simples e não complexos.
O “simples” são as consultas, procedimento este em que muitas coisas são resolvidas. O “complexo” é quando o paciente precisa de uma ressonância magnética, por exemplo.
Quando a consulta não é feita corretamente, isto leva ao pedido de exame complementar, o que faz com que o sistema como um todo seja impactado. Como não se resolve o problema, pela demora da realização dos exames e pela consulta não adequada, as pessoas acabam a procurar o pronto socorro.
O secundário é a formatação do próprio conceito de Sistema de Saúde, dentro de quatro aspectos fundamentais que são: normatização, planejamento, financiamento e o prestador de serviço.
Nem com todo dinheiro investido em Saúde,
a Prefeitura consegue fazer 
a manutenção no prédio do Postão.

Sistema de Saúde 
em Piraju
Em Piraju quem normatiza é o Governo, quem financia é o SUS, quem planeja é o Departamento de Saúde e quem presta o serviço é a OS e o Hospital, mediante concessão do poder público através de convênio.
Em 1994, Piraju optou por aderir à Atenção Primária da Saúde (APS). Aqui o sistema recebeu o nome de Programa Saúde da Família. Neste sistema, foi colocado um médico e uma equipe numa comunidade, para vivenciar seus problemas sociais e ajudar a resolver esses problemas junto com esta própria comunidade. É por isso que se fez parceria com a associação de moradores de bairro.
No PSF, o médico e todos os demais profissionais da equipe deveriam ter dedicação exclusiva. Quando muito, ao médico em especial, se poderia até permitir que trabalhasse no hospital, fora do horário de atendimento no PSF, mas não poderia ter consultório, pois, caso contrário, ele acaba por matar o PSF, pela simples concorrência entre o público e o privado. Com relação a isso, Osvaldo Ortega exemplifica: “Eu costumo dar o seguinte exemplo. A prefeitura resolve montar uma padaria pública e dar a cada cidadão um pãozinho por dia. Contrata o melhor padeiro da cidade e paga o salário de R$ 2 mil. Todavia, não o impede de também ter sua própria padaria, fora do horário de trabalho na padaria municipal. Depois de seis meses, a realidade tem demonstrado que, na padaria pública, uma hora não tem farinha, em outra não tem água, num dia o forno não funciona. Um dia ele dá uma falta abonada e não sei o que mais. Só que, na sua própria padaria, nada disto acontece. Lá tudo funciona bem e corretamente, pois é onde este padeiro passa a ganhar mais dinheiro. O mesmo padeiro, que é servidor público e empresário ao mesmo tempo, fica com o dilema: se a padaria municipal funcionar, como ele vai tocar a sua padaria própria?”, explicou assim Ortega o motivo pelo qual quem trabalha no PSF não poderia ter consultório próprio.

Consultas 
Oishi Adrenalina: A melhor vista de PIraju
Como se trata de atenção básica, o médico, o dentista e o enfermeiro que estão no PSF devem atender consultas dentro de uma programação e não no pronto socorro, que, em tese, só deveria cuidar das urgências e emergências. Por isso, é preciso fazer um levantamento do motivo pelo qual as pessoas estão indo para o pronto socorro.
“A gente tinha numa época aqui, a estratégia de que todas as pessoas que passaram mais de 6 vezes no hospital no mês. Com esses números em mãos, a gente fazia uma visita em casa. Assim que chegávamos, mostrávamos que tínhamos a informação e as pessoas, inicialmente, se assustavam. Depois perguntávamos o motivo dessa ida”, contou Ortega, que, com essa estratégia, conseguiu fazer com que a ida ao hospital diminuísse, porque os motivos passaram a ser descobertos e resolvidos. Com a evolução da estratégia, as visitas domiciliares passaram a acontecer no momento em que a pessoa passava pelo hospital três vezes.
Nestas visitas foram encontrados vários motivos para as pessoas ir direto para o pronto socorro sem passar pelo posto de saúde como, por exemplo, falta de remédio, o paciente não gostava do médico, não gostava da enfermeira.
“Só que a hora que a gente começou a fiscalizar as pessoas começaram a pensar ‘se estão fiscalizando não vou mais e o problema precisa ser resolvido de outra forma’. Aí começou a diminuir”, lembrou o médico que tornou o PSF de Piraju em referência no Brasil.
Exames
Para Osvaldo Ortega, treinar as equipes para ter melhor diagnóstico e pedir menos exames é fundamental. Não que os exames não sejam importantes, é que, na saúde com base em informação e números, pode-se dizer quantos exames complementares eu vou ter que fazer, conforme a população atendida e as suas necessidades.
“A partir do momento que se tem 100 exames e 90% são normais, sem alteração, eu começo a desconfiar que se está pedindo exames sem necessidade. Eu passo para o cidadão a impressão de que, o que vai resolver o problema dele é um exame complementar e não é assim. Uma simples consulta médica resolve. O médico tem que examinar direito e orientar o paciente. Se o paciente é hipertenso, não faz o tratamento direito porque ninguém orienta, ele vai parar no pronto socorro”, recomenda o médico de Piraju.

Financiamento 
Para que o Sistema funcione, os profissionais têm que ser remunerados dignamente. Se não tem bons salários, pode-se correr o risco de ficar com os menos qualificados. Para ficar com os melhores, acaba se permitindo que ele tenha seu consultório para complementar sua renda, o que muda o funcionamento do PSF. Para o médico da Ergovida de Piraju, para que o PSF tenha resultado e se tenha exclusividade, é preciso que o salário compense.
“Em todos os lugares do mundo, o sistema público concorre com o particular. Se a iniciativa privada paga R$ 20 mil, então o público também tem que pagar R$ 20 mil. Só que, uma vez no PSF, ele não pode ter consultório. Pode dar plantão a noite, mas não pode deixar de vir trabalhar no dia seguinte alegando que está cansado e com sono. Não pode também trabalhar em outro município. Quando muito, pode prestar serviço no hospital numa necessidade específica”, enfatizou Ortega. “A exclusividade do médico do PSF impede a existência de situações contrárias e que acabam por comprometer o Sistema Público de Saúde de Piraju “Hoje tem médico que trabalha no PSF, que é chefe do pronto socorro, que dá plantão na retaguarda e que dá plantão no pronto socorro de porta. Assim o sistema não vai funcionar”.

Veja a seguir uma entrevista com Osvaldo Ortega

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